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quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Days Of Wine And Roses ( Dias De Vinho e Rosas)

Você acorda durante a noite. Você não sabe onde se encontra. Que horas são? Não há razões para você viver onde está morando. Você se levanta da cama no escuro. Sente uma corrente fria de ar nas pernas descobertas. Ela sobe pelo corpo até a cabeça. A cabeça se confunde com os pés. Você caminha para a sala rolando em cima dela, como o menino saltimbanco do quadro Picasso. Você se aproxima da poltrona que dá pra janela e de lá, sem acender a luz do abajur e já sentado, redescobre os próprios olhos, vendo a rua deserta e iluminada ás quatro horas da manhã.

A poltrona é velha e um pouco cômoda. Esta encardida pelo uso. Ela não combina mais com você. Você não combina mais com ela. Muito grande, não há como escondê-la no armário embutido, onde você escondeu os vários quadros que estavam dependurados nas paredes. O apartamento de quarto e sala foi alugado com os móveis e os quadros. Falta o dedo, falta o gosto. Você fica ao lado dos móveis, dentro do apartamento. Você esta vivendo no apartamento como se morasse num quarto de hotell. Você liga o aparelho de televisão. Você e os móveis se entreolham de perfil, como bandido e polícia se estranham um ao outro no filme que esta sendo exibido a esta hora da madrugada... [...]


Silvano Santiago.


Fonte: Os Cem Melhores Contos Brasileiro do Século





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